sexta-feira, fevereiro 25

22e 23 de Fevereiro de 2005

O espaço chamava-se Terra.

Passou um caderno em que as pessoas iam escrevendo.
Ficou assim:

Escorro a lágrima que corre para as profundedades inebriadas da emoção.
A gruta de sonhos derramados como tinta de piano solitário.
È quase a concretização, o sangue corre a velocidade mil até à ponta dos dedos e para. Trava. Quase tocava. Quase cheirava o cabelo. Quase abraçava.
Estamos sob as árvores, de caras insufladas no bule de chá. A luz rodopia nas palavras por assentar.
Quase respiro.
exorcizas o sincretismo dos suspiros
abres a mão e libertas o mar revolto
sem esquecer a primeira luz nos antigos olhos
O carrocel da minha infância... que gira vezes sem conta no meu pensamento, e insiste em fazer girar a minha vida em torno de um mesmo objectivo... um só!
E enrola-se como aspiral corpórea que nos toca, contra a fita cortante que alimenta o amor do nosso coração, o rio belo ao qual nos juntámos e percorremos em toda a sua intensa melancolia.
Somos um... e contudo sentimo-nos separados...
-Pensa numa cor.
-Pensei.
-Pensa numa flor.
-Pensei.
-Pensa num desejo.
-Pensei.
-Para cima ou para baixo?

Para cima. É um movimento que não controlo. Juro. Prometo. Ás vezes chamo e descrubo que não lhe sei o nome. E quando vem, assim, agora, nem penso em perguntar como se chama o sorriso.
" Que horas são na terra dos sonhos? Que passas? Sei disso. Sei que cerveja com amigos. Sei que os amo. E a ti também. Que cores são na terra dos sonhos?"
"É preciso lençois." (Sílvio Mendes) Todas as ruas por fazer numa cidade tremida. Para cima. Um, dois, três e já não te conheço. Apaguei a tabuada do lápis com a aguça.
nas tardes de amor e esquecimento
um ópio sanguinário revelado por trés verbos
alma jogada em póker e o vinho tinto da menstruação
querer viver por cima da sobrevivência: os passos perdidos

Aquele som!... Aquele cheiro... Que saudades de correr por entre aquelas folhas secas de Outono, e ouvir o estalar dos meus passos sobre elas... Aquele cheiro! As cores... que saudades... Por momentos ainda consigo ouvir o riso do prazer, sentir aquele cheiro e rever as cores.
Sul!
Um dia, um espaço em branco,
outro dia...
Um Norte magnético!
Uma folha de papel rasgada, precisada de ser escrita.
Um dá sorridente... num vazio... num dia triste.
Num olhar que se despede infinitamente para se sepultar.
Como estátua erquida à beleza idealizada.
Um sonho. Uma palavra. Um silêncio. Um espaço a percorrer.
Ainda em branco...
Ainda em branco...
Entre mim e ti.
O que se quer dizer quando se escreve Sul?
E quando se escreve Sol? Amanhece?


Os autores:
Paulo
Catarina
Rita
Hugo Rafael
Joana
Milú
Helder

Algumas pessoas não conheço. Estavam apenas na nossa mesa e marcaram o meu caderno.
Escrevemos a noite a bater-nos na cara. Eu acredito.

sexta-feira, fevereiro 11

Ela vaí à minha frente na vida. Leva a tocha e vai iluminando um pouco o caminho, e não é um caminho comum. É daqueles que ainda não foi aberto, que é só nosso e que, por isso, tem mais silvas e mais espantos.
"Está mesmo frio ou é da minha solidão?"
Uma multidão gelada.

Embriaga-te

Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto: é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:
"São horas de te embriagares!"
Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar!
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.


Charles Baudelaire